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Ariana Interrompida

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Mensagem por Debbie Sáb Jan 12, 2013 2:09 am

Ariana Interrompida Raaaal6neg4tsvivrh2jlcwqe

Incesto. Ariana borderline. UA. Ariana/Sirius/Alvo.

Do Luc; que deu o plot faz um tempo. Da Reh; que ajudou a desenvolver. Da Shoyo; que me atura. Da Ley; que se interessou. Da Meg; porque ela é minha <3

Capa pela Reh.

Inspirada nos filmes "Garota Interrompida" e "Os Sonhadores".
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Mensagem por Debbie Sáb Jan 12, 2013 2:17 am

1 - A GAROTA DE CABELOS ROSAS

(pov Sirius)


Ela gritou lá da cozinha que ia fugir de casa. Que o pai era um estúpido por ter sido preso. Ela deu uns berros com o irmão protetor demais e subiu os degraus em fúria. Depois desceu a escada com uma mala muito pesada para sua força, saiu da casa aos insultos e bateu a porta da frente.

A encontrei entre o ir e vir de sua fuga, furiosamente incerta sobre como prosseguir.

O rosto estava contorcido com um ódio teatral. Os cabelos estavam amarrados num rabo-de-cavalo mal feito. As pontas loiras eram pintadas de rosa (já gastas). As unhas eram roídas de ansiedade. Tinha olheiras em torno dos olhos azuis. As sobrancelhas eram juntas demais, dando um ar de extrema suspeita. Tinha botas que iam até o alto dos joelhos e meias rasgadas. A saia era jeans com manchas. Usava uma blusa que deixava os ombros à mostra. Tinha essa aparência doentia e apática, como se o mundo lhe desse tédio. Branca demais, a pele tinha aversão ao sol.

Nenhum dos dois irmãos abriu a porta da frente para chama-la de volta. A mãe deve tê-los acalmado. Era tudo do jeito dela.

Ela queria fugir daquele jeito escandaloso e dramático pelo menos uma vez por semana, mas nunca passava do quintal. Mascava um chiclete com raiva. Fez uma bolha. Estourou.
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Mensagem por Debbie Sáb Jan 12, 2013 2:30 am

Quantos anos tinha? Catorze anos. Pela aparência física, não tinha mais de onze. Pelos olhos selvagens, quase alucinados, não tinha idade, era alguém atemporal.

Eu tinha dezesseis.

Dezesseis anos de puro rancor.

Porém, o meu jeito de sofrer era sem graça. Do jeito dela era divertido. Vê-la espernear que ia embora quase toda semana, gritando ameaças e palavrões. Se trancando no quarto cor-de-rosa (como se dos treze ao catorze anos a princesa tivesse virado uma criatura da noite, tal qual um eclipse, para gostar mais do preto) com o rock n’ roll no último volume. Ela rabiscava paredes e torturava bonecas. Um dia apareceu na janela seminua, sem seios definidos e com o corpo sem curvas. Prendi-me no banheiro por duas horas seguidas.

Era atrasada no crescimento. As meninas tinham seios fartos. Ela era minúscula. Por isso era tão divertido vê-la brigar. Como se de fato acreditasse que seria possível ganhar qualquer causa contra o mundo. Não sei se isso a tornava corajosa demais ou apenas ingênua.

Conhecemo-nos pessoalmente àquele dia.

- Posso fugir com você? – perguntei depois de hesitar um pouco. Tirei os cabelos dos olhos por hábito. Ela quase gargalhou.

- Não conheço você.

- Sirius Black.

Estava sentada no último degrau da porta de casa. Desamarrou os cabelos. Os fios dourados se armaram. Não pareceu dar importância. Muito ingênua ou muito “eu não ligo a mínima”.

- Eu não vou a lugar nenhum.

- Por que ameaçou?

- Por que está escutando as brigas alheias?

- Por que está sendo evasiva?

Ela me fitou por um segundo pra ver (creio eu) se valia a pena perder seu tempo comigo. Juntei as pernas e tentei não ficar tão corcunda (porque sou carrancudo demais). Carrego rugas de expressão na testa mesmo nesta merda de juventude.

- Nos vemos por aí, Sirius Black. Eles devem estar preocupados. – respondeu. Não sei se ela foi sarcástica ou não. Pegou a mala feita com rapidez com a qual “ia fugir” e entrou na casa. O sol se apagou um pouco.

Eu queria entrar com ela em seu mundo perturbado para ir além de mim, saber o que havia dentro dela.

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Mensagem por Fleytwick (Ley) Sáb Jan 12, 2013 11:46 am

Quem sabe agora eu acompanho? o/
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Mensagem por Lemos Lupin Dom Jan 27, 2013 10:33 pm

Eu, eu, eu vou ler!!
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Mensagem por Meg Cleary Seg Jan 28, 2013 6:43 pm

dedic S2 S2 S2

"Porém, o meu jeito de sofrer era sem graça. Do jeito dela era divertido."
amei esse quote, sério >.>

lembro de várias passagens dessa fic.. quero ler de novo e ler pela primeira vez a continuação q ainda nao vi! posta mais gata *O*
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Mensagem por Debbie Seg Jan 28, 2013 9:19 pm

2 - MINHA METADE

(pov Ariana)


Anoiteceu sem lua nem estrelas. O encontro com o tal que se apresentou como “Sirius Black” tintilou na minha cabeça até a hora de dormir. Porque depois que o sol se punha, eu não pensava em mais nada além do corpo que dormia junto ao meu.

Eu não era mais criança.

Mamãe apagou as luzes do seu quarto. Abeforth fez o mesmo logo depois. Ambos têm essa mania insuportável de dormir cedo. Eu prefiro a noite. Porque na escuridão da noite posso ser eu mesma (seja eu quem for).

Coloquei as pantufas de garotinha. Estava com meus pijamas de estrelas coloridas. Os cabelos ainda molhados pelo banho recém-tomado. Bati três vezes na porta que não era meu lugar. Ele me recebeu com um ar de surpresa.

- Posso dormir com você?

- De novo? – perguntou-me Alvo.

- Tenho medo. – resmunguei com voz meiga.

Eu não tenho medo de dormir sozinha. Tenho medo de dormir sem ele. O repudio de Alvo era meu maior medo. Seu desafeto ou indiferença.

- Só mais uma vez? – continuei, já entrando no quarto.

Ele entreabriu a porta, incerto. Tinha aqueles olhos azuis como se já tivesse vivido mais de cem anos tendo apenas dezoito. Alvo sempre tinha respostas para tudo. Fazia planos brilhantes e pretendia conquistar o mundo. Pretendia construir um mundo só para ele.

Eu estava presa nesta vida sem graça cheia de farsa só para me manter sã.

Eu iria embora com Alvo algum dia. Talvez por isso não fugisse de casa. Às vezes Alvo e eu colávamo-nos corpo a corpo, alma e alma e mente e mente. Tudo em meus devaneios. Ele pedia por mim. Eu não era mais criança.

Entrei no quarto. As luzes ainda estavam acesas. Como eu, Alvo gostava de trabalhar noite adentro. Mas ele sempre acordava cedo. Eu não. Era férias.

Talvez eu pudesse tirar férias de mim.

Alvo planejava ir para faculdade em breve. Como poderia deixa-lo partir?

- Ariana. Se teme o escuro, vá dormir com nossa mãe. – pediu ele firmemente.

- Mamãe me odeia. – respondi (o que não era uma mentira). Mamãe e Abeforth me odiavam e não me compreendiam.

Deitei-me em sua cama. Senti seu cheiro. Esqueci totalmente Sirius Black. Ele se deitou ao meu lado, tentando não me tocar. Eu o abracei.

Senti meu irmão junto a mim, tremendo, fechei os olhos e fingi adormecer instantaneamente.

Ele respirava em minha nuca. Tentava fazer com que suas pernas não encontrassem as minhas. Eu o abracei mais forte e murmurei como se sonhasse:

- Eu te amo.

Todos os membros de seu corpo endureceram como se ele temesse meu sentimento. Eu temia sua recusa. Seus cabelos loiros escuros se precipitavam em minha nuca. Imaginei os olhos azuis (como os meus, exatamente como os meus) brilhando de desejo. Alvo tinha esse porte elegante de líder. A voz era firme e pausada, como se quisesse se fazer entender sem se preocupar com o tempo. Era sempre educado. Sempre disposto a me escutar.

Quando acordei na manhã seguinte, ele estava dormindo no chão, em um colchão improvisado. Não o ouvi saindo de perto de mim. Dei um suspiro.

Por que ninguém me amava, se eu amava o mundo inteiro? Por que é que meu próprio irmão me recusava?

Chorei em sua cama. Encharquei seu cobertor com minhas lágrimas, marcando-o como meu. Como devia ser. Como iria ser. Eu pertencia ao meu irmão e não nasci ao seu lado por um mero acaso. Acasos não existem.
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Mensagem por Debbie Seg Jan 28, 2013 9:30 pm

3 – A TRAGÉDIA DELA

(pov Alvo)

Ariana tinha dor bela que pulsava para fora de si em forma de atitudes infantis e dramáticas. Ela brincava; não com bonecas ou jogos. Ela brincava com as pessoas e as movia como se fossem peças de xadrez, para observar quais eram seus limites. Eu não tinha certeza de como seria o xeque-mate de Ariana.

O pai de Ariana (não o considerava "meu pai") foi preso quando ela tinha dois anos. Por estupra-la. Ela não se lembrava.

Desde então Ariana vinha buscando referencia masculina nesta casa para ser seu espelho ao inverso.

Minha doce irmã, minha doce irmã ...

Seus gestos e seu palavreado são apenas consequências de uma mente mal interpretada e mal cuidada. Era apenas menina; tinha um mundo imaginativo para criar. Foi interrompida. Abeforth e Kendra não sabiam lidar com os problemas.

- Por que você me abandonou? – ela me perguntou no café da manhã. Ela sempre usava palavras trágicas e sem volta como "abandonar" em vez de "deixou o quarto".

Abeforth parou o que estava fazendo. Kendra nos fitou com nervosismo.

- Apenas conforto. Gosto de espaço. – sussurrei. Os outros dois não sabiam que falávamos de seu ritual quase incestuoso.

- Você não me ama. – ela afirmou com os olhos estreitados. Uma mão estava fechada na faca que passava geleia no pão. A outra estava em forma de murro sobre a mesa.

Kendra abriu a boca. Abeforth veio em socorro de Ariana, como se fosse ter o controle da situação. Ele achava que era o homem da casa. Eu não me importava. Só me preocupava com Ariana.

- Você não me ama. – repetiu ela. E com as pantufas e os cabelos dourados jogados na face enquanto ela fazia que não repetidamente, subiu para o banheiro. Meus pés a seguiram instintivamente; era uma recusa temerosa para seu estado.

- Ariana! – chamei na porta do banheiro. Ela o havia trancado.

Abeforth estava lá fora junto de mim dizendo coisas banais e que não ajudariam em nada, como “se ficássemos mais com ela ...”, “se você tomasse o controle ...”. Quis que ele calasse a boca. Eu lidaria melhor com a situação se pensasse sozinho, se pensasse em silêncio.

Dentro do banheiro, Ariana parecia um gatinho choramingando. Então ela gritou. Com um chute, Abeforth conseguiu destrancar a frágil porta. Ariana jazia com um pulso cheio de cortes superficiais. Na mão direita, a faca. Nos olhos, um desespero tão pleno que tive certeza que sua mente lembrava-se de alguma coisa que o pai dela fizera-lhe no passado.

O sangue escorria em filetes pelos braços. Abeforth e mamãe se sobressaltaram. Houve um rebuliço ao meu redor. Como se mais caos fosse ajuda-la em alguma coisa. Se sua mente já estava em briga com sua alma...

Ela tremia. Kendra procurava por curativos. Abeforth fazia mais estardalhaço. Ela não parecia se odiar por se mutilar. Fitava fascinada o próprio sangue. Olhou triunfante para mim e eu percebi - ela fez uma cena digna de filme dramático para conseguir o que queria. Ela queria minha atenção.

- Do que você precisa? – perguntei vacilante.

- De você. – ela murmurou. Virei o rosto; ela ia vir com os lábios para me beijar. Ninguém viu.

Ia fazer um discurso. Ia tentar anima-la. A campainha soou; eu havia marcado com Grindelwald de verificar nossas melhores opções de faculdades (havíamos passado em todas que tentamos) ou, caso nos fosse agradável, dar um passeio ao sol e ficarmos juntos discretamente.

Arina soube quem era antes mesmo de eu anuncia-lo, apenas pelo meu olhar inquieto. Eu soube que Ariana estava descendo em espirais para baixo rapidamente, uma alma destroçada e uma mente lutando para distinguir o saudável do destrutivo. Abeforth e Kendra cuidaram de tudo (para meu amigo não perceber como minha irmã era louca). Ariana ainda me fitou com aquela expressão de que eu a havia traído novamente.

- Eu te odeio. - me disse antes de eu partir.

Ela me amava à noite e me odiava de manhã; era dois extremos em uma garota só, por uma pessoa só.
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Mensagem por Debbie Seg Jan 28, 2013 9:38 pm

4 – SUGANDO MINHA INFELICIDADE PELA SUA BOCA

(pov Sirius)


Corremos gargalhando até um beco da vizinhança.

- Quem perder tem direito a um desejo. – disse ela. Estava com meias arrastão rasgadas. Tinha os cabelos soltos e molhados. Band-aids coloridos por todo o pulso esquerdo. Chegou arfando pouco depois de mim.

- Vou fazer meu pedido. – anunciei sem espera-la recuperar o folego. Ela estava com a cabeça baixa segurando os joelhos, respirando com dificuldade. Eu subi sua cabeça, segurando o queixo, e a beijei.

Travamos uma luta com nossas línguas sedentas de poder. Nenhum de nós queria ser submisso ao outro; eu pela minha rebeldia precoce; ela por motivo que eu desconhecia. Talvez ela só quisesse possuir o mundo inteiro dentro de si.

Ela se sentou, me jogando para o lado de repente. O shorts negro subiu e mostrou suas coxas pálidas cheias de manchas roxeadas, como se fosse uma menina atrapalhada.

Acendi um cigarro. Por um segundo Ariana pareceu surpresa. Em seguida chegou bem próxima; eu já estava me sentindo explodir entre as pernas pela proximidade da garota. Pelos seus movimentos sem a graça de uma menina que quer agradar. Ela colou seus lábios aos meus e sugou a fumaça. Instantaneamente começou a tossir.

Dei um sorriso de lado.

- Você nunca fez isso?

Ela me encarou com expressão de desafio.

- E daí?

- O que mais você nunca fez? Além de ameaçar fugir de casa e nunca passar do portão?

Ela não corou. Seus olhos se estreitaram. Parecia prestes a me bater, o que era uma piada, porque era muito pequena e muito magra.

- Eu fujo todos os dias. – anunciou em tom enigmático.

- Como funciona?

- Eu só finjo que não sou eu mesma. – respondeu de prontidão.

- E quem é você agora?

Pareceu pensativa por um momento. Então se ajoelhou. Naquela posição pareceu-me uma garota rezando para a expiação de qualquer pecado bobo. Demorei a perceber sua intenção. Até que ela abriu meu zíper.

- Sou sua. Uma qualquer.

- O q ...?

Então ela tirou-me tudo. E colocou uma das mãos em meu membro. Sem pudor algum, colocou a boca. Eu só levantei os braços como um refém acuado. Também fiquei sem reação.

Podia ver a sua cabeleira loira indo para frente e para trás; ela sugava minha infelicidade juvenil com a boca rapidamente, cheia de uma avidez ansiosa. Sequer um dente bateu em meu membro. Sua língua girava e girava. Ela queria mais de mim; tomava-me para ela como se eu a pertencesse. Queria mais de mim, precisava mais de mim, sugava mais de mim, sugava sensações que nunca julguei possuir...

Meu corpo tremeu. Do centro, correndo para todas as extremidades, meu gozo se espalhou por sua boca, meu êxtase se espalhou pelo meu corpo; tremia sem frio. Tinha prazer com uma surpresa crescente...

Ah, ela era minha, minha qualquer, ela era minha qualquer, e agora eu estava dentro dela em forma de infelicidade liquida ...

Engoliu. Então se levantou, me deixando naquela posição ridícula de calças abaixadas e sensação pós-gozo, de faces coradas e pernas que tremeluziam.

- Vou voltar. – anunciou de supetão.

Acendi novo cigarro, sedento. Minha língua estava seca e dormente. Suguei com a mesma vontade que ela estivera em meu membro.

- Posso tentar? – pediu ela.

Eu acendi seu próprio cigarro. Ela tragou. Ela puxou a fumaça para a garganta – não tossiu, engoliu com a mesma ferocidade que engolira meu gozo. Eu, sem jeito, estava novamente vestido.

- Aprendi. – anunciou ela de bom humor.

E de repente olhou em meus olhos. Eu estava refletido nela. Meus olhos negros. Ela pareceu perceber alguma coisa, naquele seu mistério que gerava uma aura tão extasiante quando meu próprio gozo. Percebeu algo em meu olhar. E correu para a casa.

Fugiu, levou-me com ela.
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Mensagem por Debbie Seg Jan 28, 2013 9:55 pm

5 – O DIA QUE FOI INTERROMPIDA

(pov Kendra)

Apenas dois anos. Era uma criança quieta demais. Ariana completou a família. Foi a realização de um sonho. Sempre quis uma menina.

Eu deixava seus cabelos sem corte quando era bebê porque eram cacheados. Lembrava um anjo que caiu na Terra. Meu presente. E possuía aquelas grandes olhos azuis sempre curiosos. Abeforth é firme. Alvo sempre teve o olhar superior. Ariana tinha este tom infantil no olhar. Cada novo dia era uma surpresa.

Até que foi interrompida.

Ele entrou em seu quarto. O berço simples tinha detalhes de anjos. Era um dia tão quente de agosto que ela estava sem cobertor. Estava de pé esperando que alguém a ninasse. Já sabia andar. Deve tê-lo recebido com um sorriso torto e um “papai”. Não sei a sensação que uma criança sedenta por sua atenção causava nele. Está acima de minha compreensão, esse pecado cometido que foi partir em duas meu pequeno anjo.

O que se passava na cabeça do demônio ao possui-la? Sim, ele foi preso. Mas ainda marca Ariana como seu. Porque todos os dias ela se pune por não ser mais inocente. Todos os dias ela nos pune por não tê-lo impedido.

Todos os dias Deus nos pune por ter acolhido um demônio em nosso lar. Seu próprio pai.

Os olhos azuis são dele. Todos os dias sou obrigada a vê-los em meu pobre anjo. A encarnar o papel da boa mãe. Uma mãe discreta que, em minha anseia de proteger, pareço afunda-la em seu mar de memórias cinzentas e doentias.

Ela deve ter ficado na ponta dos pés para que ele a pegasse no colo. Sempre foi muito miúda. Elevou os braços para encontrar o abraço do pai. Chamou uma vez ou duas:


"Papai, papai ..."

Ele sempre foi um pai exemplar. Sempre foi o herói dos garotos. Até Alvo o respeitava. Meu querido Alvo. Hoje ele me chama pelo nome. Não me chama de mãe.

O móbile tocava uma música de ninar qualquer. Não me lembro. Ela gostava. Talvez tenha olhado para o teto, sorrindo docemente, ao singelo tocar, para que o pai apreciasse junto à ela. E ele a tomou nos braços como um pai nina uma filha.

E a levou para nosso quarto.

E ah, meu Deus, havia tanto sangue. A música do móbile foi apagada pelos gritos estridentes de uma criança interrompida. Eu tento apagar a cena todas as noites. Faço preces para que tenha sido apenas um pesadelo realista demais.

A vida não me foi tão gentil. Ela me presenteou com Ariana e logo depois a levou embora. Ela cresceu conosco em presença. O pai foi preso.

Depois de ver o sangue ... joguei algo em sua cabeça, que fez um corte. Avancei para ele com uma faca. Os meninos não estavam em casa.

Foi preso antes que pudesse mata-lo. Deus foi piedoso com ele.

Se eu pudesse voltar no tempo, se eu pudesse...

“Eu não a machuquei!” – ele argumentou. – “Eu a amo! É minha própria filha, Kendra, por favor, eu a amo demais, só isso!”.

Desde então aprendi que há amores que machucam para sempre.

Todos os dias eu a observo com a esperança de ver em Ariana seus traços de neném. E cada dia eu me decepciono, ao perceber que ele a levou consigo, levou consigo toda a criança que havia nela e deixou vestígios de um crime, uma vida torturada, uma vida perturbada, uma filha pela metade. E relembro a cena, e refaço a cena, e imagino a cena. E caio aos prantos.

Não foi sua culpa. Agora nossa culpa por ela está nos destruindo.

Ela pede por um pai. Ela esperneia por atenção. Ela virou alguém irreconhecível. Ela se mutila. Ela faz de nós pessoas manipuláveis como se fosse nossa culpa.

Ela sempre precisa de aprovação. De amor. É como se pedisse no olhar “me ame mais do que você pode”. E ao mesmo tempo...


"Arda no inferno que você mesmo criou."

"Você podia ter evitado. Agora me ouça gritar pelo pecado que nunca cometi."

"Por que vocês me tratam como a culpada? A única coisa que fiz foi nascer."

Era apenas um bebê.

É nossa culpa. Desde aquele dia. E a culpa maior é minha. Como podia não ser? Um pai deve guiar a filha. Uma mãe deve protege-la. Ambos falhamos. E Ariana recebe o que quer, porque é necessário ... porque falhamos horrivelmente com ela. Nosso pobre anjo.

Eu lhe daria o mundo só para não admitir que eu fracassei em ajuda-la.


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Mensagem por Debbie Seg Jan 28, 2013 9:57 pm

Bom, taí. São 18 capítulos + epílogo. Se vocês estiverem lendo, eu continuo a postar I love you
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Mensagem por Meg Cleary Ter Jan 29, 2013 9:38 am

"Ah, ela era minha, minha qualquer, ela era minha qualquer, e agora eu estava dentro dela em forma de infelicidade liquida ..."
hmm 666~ prazer de gente emocionalmente torturada me gusta

"Os olhos azuis são dele. Todos os dias sou obrigada a vê-los em meu pobre anjo."
isso foi tão bonito e triste i.i

"Desde então aprendi que há amores que machucam para sempre."
morri T_____T

posta mais, gata *-*
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Mensagem por Junes Potter Ter Jan 29, 2013 4:32 pm

Eba, vou ler novamente cheers
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Mensagem por Mandy Ravenclaw Sex Jun 07, 2013 12:22 am

Sem puxação de saco: a melhor fanfic potteriana que já li até agora.
Acho que tem a ver com ser um pouco mais realista. Um romance perturbado ...
Continue com ela, por díos!
Sou sua fã sz'
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Mensagem por Debbie Sex Jun 07, 2013 8:08 am

Mandy Ravenclaw escreveu:Sem puxação de saco: a melhor fanfic potteriana que já li até agora.
Acho que tem a ver com ser um pouco mais realista. Um romance perturbado ...
Continue com ela, por díos!
Sou sua fã sz'

Oi Mandy! Tinha até esquecido dessa fanfic aqui haha. Ela já está finalizada. É minha short pessoal favorita tb. Vou postar mais um pouco Smile
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Mensagem por Debbie Sex Jun 07, 2013 8:17 am

6 – MINHA NAMORADA

(pov Sirius)


Encontramo-nos outra vez no dia seguinte. Ela me esperava na porta de casa. Como se, como eu, preferisse passar os dias de férias rodando por aí até o anoitecer em vez de ficar no “lar”.

- O que está fazendo aqui?

Ela estava agachada, traçando desenhos no chão com um graveto. Não surtia efeito nenhum porque era um asfalto.

- Não posso andar por aí com você?

Julguei, pela fuga dela no dia anterior, que nunca mais olharia para minha cara. Talvez ter sugado minha infelicidade pelo meu sexo a tivesse intimidado. Estava errado sobre ela. Sempre estaria errado sobre ela.

- Vamos sair daqui. – pedi, olhando mal-humorado para minha própria casa.

- O que tem de errado com a sua casa?

Meu humor ficou mais sombrio.

- Prefiro não falar sobre minha família. – pronunciei a última palavra como se fosse uma doença grotesca. Ela riu.

- O que há de errado com eles?

- Meus pais são uns babacas. – cerrei os punhos. – E meu irmão...

- Você quer transar com ele? – ela me perguntou em tom de quem pergunta como está o tempo. Arregalei os olhos, assustado por um instante.

- Não! Claro que não! – parei.

Ela deu de ombros.

- Você me ama? – ela perguntou de chofre. Novamente o dom de me deixar inquieto.

Esperou minha resposta olhando diretamente para minha expressão, como se eu fosse mentir sobre ama-la ou coisa parecida.

- Eu só me impressiono. – fui sincero.

- Por que você não me ama? – ela continuou. – Você costumava me olhar pela janela.

Como se eu fosse me apaixonar pelo corpo dela. Como se eu fosse me apaixonar pela satisfação sexual que ela me dera uma vez.

- Faz tão pouco tempo que nos conhecemos.

- Eu amo você. – ela me disse. Soou estranho como “olá-estou-entediada-e-decidi-te-amar”.

Fitei-a sem acreditar.

- Você não acredita? – ela colocou uma mão na minha como o gesto de uma namorada carinhosa.

- Eu...

Então se jogou em meus braços com sofreguidão. Estávamos no meio da rua deserta. Era quase fim de tarde. Ela me enlaçou em seu corpo. Seus lábios mordicaram os meus. Senti meu membro dilatando à medida que ela se voltava contra mim, como se quisesse fundir-nos em um só.

Ela rodopiou, beijando-me; suas unhas quebradiças arranharam minha nuca. Estava na ponta dos pés como uma criança que quer alcançar um doce na última prateleira. Ela deu suspiros entre meus lábios.

E eu soube.

Estava apaixonado por ela. Seus atos impulsivos; seus cabelos descoloridos; sua maneira de entrar e sair de minha vida, levando meu coração junto; sua maneira inapropriada de falar comigo, como se me conhecesse há muito tempo; seus modos de quem não ligava para nada. Estava enlouquecido por ela. Tanto minha alma quanto meu corpo cintilavam como um precisando de sua presença.

- Eu ... amo você. – pronunciei ao gaguejo, porque ela não deixava meus lábios.

Imediatamente ela me largou. Como se toda a cena fosse só para marcar-me como dela. Para me fazer ter a certeza de que a amava, porque ela já sabia antes de mim.

- Quer dizer que sou sua namorada?

Corei. Não costumo corar. É tão estupidamente infantil.

Eu enlacei sua mão na minha e não respondi. Meu pensamento era único: sim, Ariana, você é minha namorada.
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Mensagem por Debbie Sex Jun 07, 2013 8:27 am

7 – UM PEQUENO INCÔMODO

(pov Grindelwald)


- Você não devia tê-la deixado sair, Alvo! – bravejou Abeforth. Kendra parecia ansiosa para entrar na discussão, porém era daquele tipo de mulherzinha insuportável que nunca sai de cima do muro. O marido deve ter sido preso por espanca-la quando ela simplesmente parou de falar, talvez.

Alvo interveio do seu modo calmo.

- Ariana não é uma incapaz. Não é um adorno para se trancar em casa!

Abeforth tremia de nervoso. Seus lábios tinham uma espécie de tique.

- Você tem ideia de como é... – então olhou diretamente para mim. Parou de falar instantaneamente como se fosse divulgar um segredo espetacular até perceber minha presença.

Alvo seguiu seu olhar.

- Querido Gerardo. Peço desculpas pela perturbação.

Abeforth murmurou:

- Você a deixou escapar para ficar a sós com ele, não foi? Quero dizer, foi apenas uma tarde, e ela já escapou de você... – depois continuou resmungando consigo mesmo palavras como “irresponsável” e “egoísta”. Kendra puxou o filho do meio pela mão.

Alvo deu dois passos até o irmão.

- Ela sempre foge. Não há como prende-la.

- Ela vai até o jardim. - resmungou Abeforth. - Tem medo da autoridade. Sabe que estará com problemas se rondar pela vizinhança.

- Você está errado. - respondeu Alvo passando os dedos por um velho piano. - Ela já escapou de nós há um bom tempo.

O tique nos lábios de Abeforth piorou. Era divertido vê-lo perder em argumentação para Alvo (e eu nem sabia porquê ele estava ganhando). Alvo sempre ganhava. Ele tem o dom de sempre estar certo. A única pessoa que conseguia contradize-lo era eu.

- Nós fazemos o possível ... e você ... e você ... - gaguejou o outro, incapaz.

- Ab. - sussurrou Alvo, usando intencionalmente o apelido do irmão. - Ela está bem. Ela sempre volta. Porque aqui ela encontra amor. E ela sempre precisa de amor.

Alvo terminou com essa nota enigmática. Depois virou-se para mim, como se buscasse aprovação:

- Eu só quero o melhor para Ariana.

Seu olhar era devastador de quem não tinha uma resposta exata.

Ariana era aquele tipo de garotinha que não recebeu boas palmadas quando criança. Talvez pela prisão do pai muito cedo, ou pela mãe ser uma tapada, ou até pelo irmão achar que ela devia viver trancada, a menina virou um desconforto.

A família tinha dois homens adultos na casa. Alvo partiria comigo em breve. Ariana era como uma peça avulsa. Sempre aos berros. Sempre necessitada de algo. Sempre intrometida ou sedente de atenção.

Por fim, ela chegou. Bateu a porta da frente. Deixou o hall e veio até nós na sala de estar. Olhou-me profundamente nos olhos com um ódio descarado. Depois virou para a família.

-Tenho um namorado. – disse como se fosse a noticia mais esplendorosa do ano. Ah, Alvo deixou-a sair e ela voltou namorando alguém. Quem ligava?

Ela se virou para Alvo. Não se deu ao trabalho de me cumprimentar.

- Ariana, onde você... – começou Abeforth.

- Tenho um namorado. – Ariana repetiu para causar o efeito esperado (e eu nem o que diabos ela queria com aquilo). Olhava para Alvo. Talvez fosse “olha só, você me deixou sair e eu fiquei aos beijos com alguém”.

- Está bem, querida. – quem falou foi Kendra. A voz estava rouca pela falta de uso. Tanta gente muda no mundo e Deus deu voz para alguém que não usava. – Me ajude a preparar o jantar.

Tanta família no mundo e Alvo nasceu no berço de um lar tão incômodo, para não ser grosseiro. Ariana era um desconforto particular.

Kendra puxou o pequeno demônio para a cozinha (arrastou, na verdade) e Ariana me mostrou a língua ao passar. Como uma criança. Aos catorze anos.

Devia dar a ela um ursinho de pelúcia no natal?

Abeforth foi atrás, lançando um olhar para Alvo que dizia explicitamente “eu ainda vou discutir com você”.

Quando estávamos sozinhos na sala de visitas, eu perguntei:

- O que tem de errado com essa garota?

Alvo me olhou com os olhos pesarosos.

- Foi interrompida. Voltemos ao quarto, querido Gerardo. Volte-me a falar sobre a universidade com aquele laboratório magnifico...

Pareceu-me que Ariana era o único problema que meu querido Alvo não era capaz de resolver. Era só uma garota amalucada. Um incômodo na vida de quem eu mais amava. Na verdade, a única pessoa que eu amava.
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Mensagem por Debbie Sex Jun 07, 2013 8:38 am

8 – ENGAIOLAM O PÁSSARO DURANTE A NOITE

(pov Alvo)


Ouvi minha porta ranger. Ariana estava parada no portal com um candelabro. Seu recorte sob a luz me lembrou duma criança. A noite tinha estrelas e um luar. A janela zunia com vento chato e gotículas duma chuva fraca.

Andou firmemente até minha cama. Usava uma camisola até os joelhos. As aureolas dos seios se precipitavam contra a transparência da vestimenta. Não havia roupa intima contrastando com a camisola branquíssima.

Empalideci instantaneamente.

Pé ante pé minha irmã invadiu meu santuário. Ariana não pediu permissão ou deu uma desculpa tola àquela noite.

Era sua noite. Era seu movimento final em nosso jogo proibido.

Ariana sabia que eu estava acordado. Eu arfava de assombro; o pecaminoso desejo pelo proibido – não por ela, não pelo seu desejo, não pelo seu corpo. Pela curiosidade.

Ela sentou-se à beirada da cama. O candelabro foi posto na escrivaninha ao lado. Seus cabelos estavam soltos, suas pontas se enrolavam como quando fora um bebê. Estavam rosadas pela tintura. Suas unhas das mãos e dos pés pintadas com um esmalte azul berrante já gasto. Os olhos eram mais claros que o esmalte. Os olhos idênticos aos meus que diziam "possua-me" de um modo tão ingênuo e firme.

- Você transou com ele? – perguntou Ariana. Ela não olhou diretamente para meus olhos; a escuridão a impedia de me achar completamente. Virei-me, o corpo deitado na cama e encoberto por um lençol.

- Não use tal palavra. – repreendi.

Ela se deitou ao meu lado. Abraçou-me por trás como sempre fazia. Eu quis solta-la. Meus cabelos encontravam seu rosto. Minhas costas encontravam todo seu corpo coberto com apenas uma camisola tênue e singela.

- Você o ama? – inquiriu novamente ao meu ouvido.

- Você sabe que sim. – respondi.

Ariana sempre foi sagaz. Ela usava sua inteligência às avessas.

- Você vai me abandonar para ficar com ele?

Virei-me. Lá estava minha irmã. Minha doce irmã.

Sedenta de um Alvo que existia apenas em sua imaginação; um Alvo que a consertaria; um Alvo que provavelmente povoava sua imaginação e minguava entre os desejos juvenis e as cores infantis.

Estávamos frente a frente. Deitados, ela reconheceu meu olhar. Os olhos dela estavam em chamas. Ela me tocava como uma amante. Uma mão desceu com os dedos ziguezagueando até meu membro. Eu puxei meu corpo ir para trás. Ela continuou a jogar.

- Se você me abandonar eu morro. Papai me abandonou. Ela me magoou ao ir embora.

Saber que o pai a estuprou a mataria; viver uma mentira a enlouquecia.

O abandono para Ariana funcionava de um modo fantasioso. Se eu escolhesse Gerardo como amante (e não ela), era um abandono permanente, o amor fraterno (de irmão), não era ao menos uma opção. Como se todas as coisas do mundo devessem funcionar do seu modo, senão estavam erradas.

- Papai era um tolo. – eu alisei algumas mechas de seus cabelos dourados temendo perde-la para sempre. Entrando em seu jogo sem querer mover minhas peças. – Nós vamos consertar tudo. Eu ... vou ...

Os dedos dela se fecharam em meu membro murcho. Seus seios pediam por sexo e contato humano. Mesmo na penumbra, fui testemunha de seus botões clamando por mim contra a camisola. Suspirei.

- Tem algo de errado comigo? – ela perguntou com medo visível na voz.

- Nós não podemos. – respondi. E fui firme. Antes de me arrepender da decisão, tirei sua mão de mim. Ela argumentou. Eu desci da cama, tropeçando em seu corpo.

Ariana começou a gritar. Andei até a porta para abafar o barulho.

- POR QUÊ? POR QUE SÓ ELE? É POR QUE SOU UMA GAROTA? É POR QUE SOU... – Ariana começou a gritar motivos tolos e improváveis. Como se fosse tudo muito simples. Só por ser um ser humano ela devia ser amada por qualquer um e de qualquer modo.

Nunca era pecado ou errado.

Luzes na casa se acenderam rapidamente. Nossa casa era sempre alerta. Como se a qualquer minuto Abeforth e Kendra esperassem encontrar algo de errado.

Ela pulou de minha cama e correu até o banheiro com os pés descalços. Eu a enlacei na metade do caminho – ela pisou em meu pé. No momento seguinte segurava uma tesoura na mão; cortou seus próprios cachos.

- Vou ser um garoto. E você vai me amar. – ela constatou com lágrimas nos olhos.

Não consegui fazer nada.

Abeforth a encontrou chorando minha recusa. Ariana usou a tesoura para ameaçar qualquer um que chegasse perto. Abeforth tirou o telefone do gancho.

- Não é necessário. – supliquei, cansado. – Ab, em alguns minutos ela vai parar.

Kendra suplicava com o olhar. Ela disse para Ariana:

- Tudo vai ficar bem, tudo vai ficar bem... – parecia tentar convencer a si mesma.

Meia-hora depois, homens de branco entraram na casa, chegando à noite, como intrusos. Ariana esperneava. Um deles tirou a tesoura de sua mão com rapidez.

- VOCÊ ME TRAIU! – gritou comigo. – SOU UMA ABERRAÇÃO! ESTOU MORTA PARA VOCÊS!

Eles a enfiaram num carro. A vizinhança inteira ouviu o pássaro ser engaiolado no meio da noite. A última visão que tive foi de minha doce irmã sendo segurada por três homens; um deles lhe aplicava uma injeção com sedativo. Ela procurava meu olhar. Ela se perguntava o que tinha feito de tão ruim para merecer aquilo.

As sirenes tocaram até o carro atingir a esquina mais próxima. Seus gritos continuaram em minha cabeça no pesadelo.

Em mim só sobrou o sentimento de fracasso; nunca pude salva-la.

Seu xeque-mate, enfim.
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Mensagem por Debbie Sex Jun 07, 2013 8:43 am

9 – CONSERTE-ME

(pov Ariana)

Sou transparente; tudo que Alvo um dia quisesse saber de mim - ele só tinha que perguntar. Eu tenho uma vontade enorme de abrir asas que não possuo e voar para longe; tenho um desejo enorme de dormir junto a Alvo como namorada; quero ser amada. Que o resto do mundo exploda.

Não sou descartável.

Não há pecado quando as regras são minhas; não há remorso quando não há regras.

Eu me lembro de certa cena. Não é aleatório ou de qualquer jeito. É minha memória mais antiga.

Alvo me disse: “Ariana! A dor não é tua. Você não tem que se perdoar. Você tem que ser livre e se deixar amar”. Suas palavras me impactaram do modo que fazem até hoje. Ele sempre falava assim comigo; como se lá no fundo eu tivesse algum problema. Eu tinha uns cinco anos.

Eu o levei ao pé da letra. A dor não é minha – explodo em cacos de sentimentos negativos para que atinjam os outros. Eu não preciso de perdão – não estou louca! E tenho que ser livre, tenho que me deixar amar – eu fui livre, eu fiz de tudo para que Alvo me amasse.

Onde foi que errei em decifra-lo numa simples frase?

Conheço todos os gestos de Alvo. Conheço o tom dos seus passos brandos. Conheço seu olhar preocupado e seu olhar de quem sabe o que está por vir. Só não conheço seu toque dentro de mim, pulsando de prazer. Estagnado em um momento nosso. Oh, não. Alvo não me permite.

Alvo não se permite.

Então eu procuro amor em todas as esquinas. Em todos os olhares. Em toda compaixão que o mundo pode oferecer.

“Você aí, me ame”.

Sirius Black virou meu namorado. Se eu o amava? Eu ... amava o amor que ele tinha por mim. Amava ele achar algo que valesse a pena admirar em mim.

Estou caindo em espirais numa espécie de pesadelo realista demais. Eu quero me livrar do corpo da alma e da mente de uma Ariana que coexiste com meus sonhos infantis e desejos sexuais adultos. Não há escapatória.

Ariana torta. Uma perdida.

Eu não entendo por que papai me deixou. Eu me lembro dele – tinha olhos azuis. Ele me rodava acima de sua cabeça no jardim; eu gargalhava. Ele tapava o sol com meu corpo de bebê, me lançando ao alto.

Alguns dias depois em minhas lembranças apagadas - ele se foi. Ninguém tomou seu lugar.

Ninguém para consertar sua perda.

"O que aconteceu com papai, mãe?" - perguntei algumas vezes. Mamãe ficava pálida e respondia: "Ele nos deixou!".

Ninguém para que eu seja “sua doce menina”. Seu orgulho. Sua bailarina.


Acordei numa cama dura. Ouvi diversas vozes. Uma agulha em meu braço. Veneno. Sentia-me tonta até para ter vontade de morrer. Mamãe estava ao meu lado aos soluços. De minha boca seca só saiu uma palavra: Alvo.

Depois adormeci. Meus pesadelos povoados de nada. Absolutamente nada. Como eu sempre desejei. Uma existência nula de Ariana.
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Mensagem por Debbie Sex Jun 07, 2013 8:51 am

10 – DESABAFANDO COM A GARRAFA


(pov Kendra)


Um gole; o gosto amargo pareceu um reflexo da minha vida. Dois goles; lembrei-me de Ariana numa cama, com a mente inválida e o corpo de criança, total inverso de uma trajetória de vida normal. Três goles; os olhares dela para Alvo, como se quisesse substituir o pai através dele. Quatro goles; seus gritos de como ela já estava morta para nós.

Cinco goles; a vida voltou a ter graça.

- Ab! – chamei. – Lembra-se de como éramos uma família decente? – dei um soluço alto.

- Mamãe? - Abeforth, meu filho suporte respondeu da cozinha. – A senhora...

Dei outro soluço alto e o copo caiu de minhas mãos tremeluzentes. Os cacos se espalharam pelo chão da sala. Abeforth estava do meu lado. Não o ouvi chegar.

- A senhora está tomando uísque? – perguntou-me, como se uma velha senhora não pudesse mudar seus hábitos.

- Pare com isso, Ab! – dei uma gargalhada. – Era só uma velha garrafa de seu pai, vamos...

Meus olhos estavam enevoados depois de uma tarde de choro compulsivo. Estava sem comer e dormir direito há uma semana, tempo exato que Ariana foi arrancada de nós.

Abeforth me empurrou levemente para uma poltrona.

- Vou trazer um pouco de café.

- Não quero café! Você se lembra? Era como um sonho! Ariana nos completou. Eu já tinha dois homenzinhos ... precisava de uma princesa ...

- Mamãe. – disse-me Ab. – O horário de visitas é daqui uma hora. Você não pode contar com Alvo para visita-la. Quer que eu vá novamente?

Ri tanto que parte de minha saliva escorreu para fora. De choque. De medo. De confusão. A cabeça começou a girar. Peguei a garrafa de uísque e coloquei a boca no gargalho.

- Não! – advertiu-me Abeforth.

- Não seja um estraga-prazeres! Só estou a derramar minhas lágrimas como uma velha com uma filha doente! – resmunguei bem alto.

Ele hesitou. Pareceu indeciso. Por fim, se retirou para cozinha.

- Vou ligar para Alvo. – anunciou. – Ele está enfurnado na casa do amigo como sempre ... – pareceu muito irritado com a situação.

Eu não me importava. Se um de meus filhos podia ser feliz mesmo com toda a confusão de um lar desfeito, que fosse. Mesmo que namorasse outro garoto.

Seja feliz, Alvo.

A campainha soou. Pisquei duas vezes. A cabeça latejava. A vida pareceu-me duas vezes mais leve.

- Eu atendo! – disse Ab.

Eu já estava na porta. De camisola. Apenas com meias nos pés. Com os cabelos emaranhados. O rosto de uma demente. Os olhos vagueando. A garrafa pela metade na mão. A boca com respingos da bebida. Cheirando horrivelmente a álcool.

Havia um rapaz no portal que não reconheci.

- Posso falar com Ariana? – ele pediu de uma vez.

- Ariana não está. – respondi indelicadamente.

- Hm ... – ele pareceu incerto.

Abeforth me tirou da frente da porta.

- Quem é você? – ouvi Ab perguntar ao rapaz.

- Sou ... o namorado dela. – soltou as duas ultimas palavras com refreio.

Eu estava ainda no hall, pouco mais atrás. O rapaz era um garoto magro com pinta de uma rebeldia engraçada para um jovem (e até normal). Tinha marcas de expressão na testa de tanto enruga-la. Um porte carrancudo. Era magrelo, mas possuía ombros largos. Olhos negros cheios de desejo por algo que há muito tempo esqueci. Talvez liberdade. Tinha a duas mãos nos bolsos de um blusão. Os cabelos eram longos e propositalmente sem corte, como quem diz “eu não ligo a mínima para vaidade”.

- Ah. – soltou Abeforth, indeciso sobre o que fazer a seguir. – Ariana está no hospital.

- Ela está bem? – o garoto ergueu as sobrancelhas. – Meu nome é Sirius Black. Não fomos apresentados. – e estendeu a mão para que Ab a apertasse em uma elegância displicente. Ele era bom o suficiente para Ariana.

Abeforth e Sirius Black se encararam por um instante. Ambos deram as mãos formalmente.

- AB! – gritei. A garrafa caiu aos meus pés, já vazia. Rolou até o rapaz Black, que franziu a testa. – Não temos mais que chamar Alvo, certo? Quantos anos você tem? – perguntei ao garoto.

- Dezesseis. – Sirius me encarou com olhar desafiador.

- Pode fazer visitas! – exclamei. – Quer visitar Ariana no hospital daqui meia hora? - perguntei.

Sirius pareceu ansioso.

- Claro que sim.

- Não precisa pedir aos seus pais? Pegar algo em casa? – perguntou Abeforth intrigado.

- Não. Meus pais não se importam. – murmurou Sirius.

- Não é um rapaz adorável? – falei alto demais, focalizando Sirius.

- Mamãe. – Abeforth murmurou como quem diz “vai-espantar-a-única-visita-que-temos-em-séculos”.

Sirius se tornou mais carrancudo e baixou o olhar. A garrafa vazia deixava o resto do conteúdo escorrer pelo hall.

- Mamãe? – Abeforth sussurrou de novo. – Ariana não está em um bom momento. Não é uma gripe. - ele suplicou com o olhar.

- O namorado dela precisa vê-la! IC!

Nada me pareceu mais normal do que o namorado de minha princesa visitando-a em um momento ruim. Sirius era um bom rapaz.

- Entre. – chamei. – Vou ensina-lo a chegar lá ... ela pode estar um pouco brava, ela odeia as tarefas, mas de qualquer jeito ... – desatei a falar em tom descontraído.

Sirius franziu o cenho e entrou.

Um gole; preciso esquecer. Dois goles; por que com meu pobre anjo? Três goles; falhei miseravelmente como mãe. Quatro goles; que não seja mais problema meu.

Cinco goles: sua filha é tão linda e tem tanta sorte! Olha que rapaz bem apessoado é o namorado dela!
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Mensagem por Debbie Sex Jun 07, 2013 8:52 am

Pronto cheers faltam mais 8 capítulos e o epílogo.

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Mensagem por Mandy Ravenclaw Sex Jun 07, 2013 3:58 pm

Continuarei a acompanhar fielmente *-*'
Estou feliz. Não sou louca sozinha por adorar essas coisas, .-.
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Mensagem por Debbie Sex Jun 07, 2013 4:00 pm

Mandy Ravenclaw escreveu:Continuarei a acompanhar fielmente *-*'
Estou feliz. Não sou louca sozinha por adorar essas coisas, .-.

comente loucamente, amo comentários u.u cheers
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Mensagem por Debbie Sáb Jun 08, 2013 10:28 pm

11 – O MANICÔMIO DE ARIANA


(pov Ariana)



Uma área externa, que funcionava como pátio e quadra (ninguém parecia fã de se mover). A ala infantil e a ala adulta deviam ser separadas – estava em reforma há anos pelo que ouvi. Eu tinha um quarto sem companheira. Era pintado em tons pastel e tinha uma cômoda vagabunda, além de uma escrivaninha e uma cama – tão longe de casa, tão distante do que eu precisava.

Fui abandonada.

Tínhamos toque de recolher. Um horário organizado como que para uma criança estúpida e robotizada. Havia o refeitório e a sala de televisão. Também havia duas salas para as atividades extras. Estas que ironizavam minha internação.

A comida não era da minha mãe; os cuidados não eram do meu irmão. O anoitecer não era com Alvo e os dias não eram com Sirius. Não era amada. Não era vista. Era um espectro entre todos os malucos que as famílias jogaram lá como lixo.

Eu era uma morta para minha família vivendo com saudades de casa. Tomava remédios de um minúsculo copo. Fazíamos fila indiana. Era melhor não criar problemas. Uma ou duas vezes por semana tínhamos que falar sobre “nossos sentimentos” com uma mulher de aparência maternal que me enojava até o ultimo fio de cabelo.

”Como você chegou aqui, Ariana?”

”Como está se sentindo hoje?”

”Você tem que se ajudar”.

Vá se danar!

Cheia de tinta. Nas bochechas. No vestido brega que minha mãe trouxe. Nas pernas e nos tornozelos tão finos quanto o pincel. Pingos de arco-íris no rosto. O azul do olhar unindo-se ao multicolorido da pintura malfeita.

Deram-me um pincel e uma paleta de cores. Deram-me uma tela em branco.

“Coloque tudo que está sentindo para fora”. – uma moça qualquer disse em tom gentil.

O coração estava tão intenso que as emoções explodiram para fora. Girei o pincel na mão, respingando em todos os pacientes que trabalhavam quietos.

- Pare! – ordenou uma garota de rosto fino.

Uma moça de branco e coque veio se juntar a nós.

- O que está fazendo? É para colorir o quadro! – apontou para a tela em branco como se eu estivesse cega.

- Quero colorir o mundo! – bati o pé.

Quero colorir minha alma. Quero azul em meu céu e vermelho em meu amor. Quero o azul dos olhos de Alvo chamando por mim. Quero branco em meus sentimentos. Quero o negro de minha alma na descarga.

- Só não atrapalhe as outras pessoas. – pediu ela num sussurro.

E se afastou dando olhares exasperados.

- Está manipulando. – analisou a garota.

Estava sentada; não coloria. Tinha nas mãos um caderno cheio de rabiscos. Os cabelos negros e cortados até o queixo. Os olhos num tom cinza nublado. Tinha cheiro de cigarro. A boca pintada com um batom barato e grudento. Tinha cintura fina e corpo de mulher.

Ariana ao contrário.

- Você não sabe manipular. – eu desafiei.

- Claro que sei.

Ela abaixou até um gorducho deprimido que segurava o pincel a esmo no ar. Os olhos estavam desfocados, como se se arrependesse a cada minuto vivo.

- Mundungo. Que cores lindas! – ela deu um sorriso opaco. Não havia cores no papel de Mundungo.

O velho voltou à tona, como se tivesse acabado de sair de um mergulho profundo num mar gelado.

- O q...? Ah! Olá, Pansy.

- Minha mãe não veio me visitar. – Pansy fez uma pausa intencional. – E meus cigarros acabaram. – olhou para os joelhos. – É como se todo o mundo me decepcionasse, sabe como é?

O velho se aprumou.

- Sei bem como é, sei bem como é ... – anunciou enfaticamente.

- Eu tento parar de fumar. Só não consigo.

Os olhos do velhote pareceram profundamente tristes.

- Você quer alguns dos meus? – e estendeu um maço de cigarros.

Pansy não vacilou. Ela pegou quatro. Deu um beijo na careca do velhote.

- Não sei como sua família o abandonou aqui. Você é tão gentil.

O olhar dele ganhou um brilho fraco que se apagou quando Pansy se levantou. Ela veio até mim.

- Você fuma?

- Às vezes.

- Consiga seus próprios cigarros. – zombou de mim.

Girou o corpo, sentou na poltrona e voltou a escrever.

Uma das moças de branco começou a bater palmas entusiasticamente:

- Quinze minutos de intervalo! Não, Mundungo, não pode ficar aqui dentro! – avisou para o velho que ameaçava virar um pedaço do sofá.

Segui Pansy até o pátio. Não era muito grande. Pessoas andavam pra lá e pra cá; algumas dopadas demais para se comunicar ou sentir algo a mais que anedonia. A maioria com um cigarro na boca. Alguns bem cuidados (os que tinham acabado de chegar ou estavam para sair). Uns conversavam animadamente. Gargalhadas malucas e tóxicas. Piadas sujas. Histórias aterrorizantes.

O resto estava no inferno - já tinham se acostumado ao abismo da insanidade. Pansy era firme. Não parecia influenciada pelo ambiente poluído com doenças que o corpo não sente. Doença da mente. Veneno da existência. Antecipação do inferno.

- Por que está aqui? – perguntei. Sentia-me infantil perto dela.

Tão cheia de si. Tão dona de palavras e ações. Tão cheia de controle.

- Problemas... – respondeu.

Ela era magra. As costelas se precipitavam contra a blusa decotada. Possuía dentes amarelos. Não era do tipo mal cuidada. O cigarro girava entre os dedos.

- Você é a novata? Do vinte e três?

Vinte e três era o número do meu dormitório. Assenti. O cigarro me lembrava de Sirius. Sua casa perto da minha. Seu deslumbre com minha presença. Minha vida sem essa tontura e tortura de ser louca.

- Meu nome é Ariana. – murmurei.

- Pansy. – jogou um monte de fumaça no meu rosto.

- Ariana? – chamou uma voz conhecida.

Sirius estava no portal que levava à sala de televisão. Também era a entrada, o guichê central. Era horário de visitas das crianças. Mas havia poucas crianças.

Talvez só eu.

O abracei de uma forma possessiva para correr do manicômio e nunca mais deixa-lo partir.

- Eu te amo. Fuja comigo.

Ele parecia confuso com o lugar. Parecia confuso com minha condição. Eu estava sem as pontas dos cabelos rosa. Cabelos com um corte desordenando. Cheia de tinta pelo corpo. Ao lado de mortos-vivos. Com olhos intensos e um vestido brega.

- Não sou mais a sua Ariana. Você vai me abandonar? – perguntei. Notei que Pansy nos olhava com interesse.

- Vamos ... pra lá ...

- Eu te amo.

- Eu também, Ariana. Senti sua falta.
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Mensagem por Debbie Sáb Jun 08, 2013 10:38 pm

12 – DANÇAM EM LOUCURA

(pov Sirius)



- Por que você está aqui? – indaguei quando estávamos na sala de televisão.

As mãos dela tremiam. Os olhos se precipitavam com ansiedade para a porta de saída. Sentamo-nos em um dos sofás. Uma televisão ligada em um canal aleatório distraía três ou quatro pessoas de aspecto sombrio.

- Disseram que sou louca. – respondeu Ariana de um modo fraco. – Eu não sou.

- Seus cabelos... – ressaltei. As pontas não estavam mais rosadas. Os quase cachos não existiam mais. Estavam rentes e mais curtos.

- Cortei fora. Estava enjoada. – ela tornou a respondeu. – Você não prefere outra cor?

Levei um tempo para entender a pergunta. Tudo ao meu redor me assombrava e fascinava.

- Acho que gosto de vermelho. – dei de ombros.

- Onde é que vou achar tinta nesta merda? – resmungou Ariana. – Não consigo nem cigarros.

- Você não fuma.

- Eu fumei aquele dia com você, não foi? – Ariana se irritou.

- E não parou mais?

Os olhos dela encontraram a porta que levava ao pátio.

De repente percebi que Ariana estava fazendo porque todos faziam. Assim, por diversão ou tédio. Ela assegurava-me tão firmemente que não era como um deles, mas estava disposta a tudo para se encaixar.

- Eu sempre tenho um maço. Fique com ele. – retruquei e empurrei o maço que levava no bolso para uma de suas mãos tremeluzentes. – Por que está...?

- Remédios. – ela escondeu a mão com o maço nas costas.

- Eu preciso falar com você. – disse de uma vez antes que o assunto mudasse novamente.

- Sobre o que é? – ela perguntou em um tom doce, quase ronronando. Sua perna colou na minha e estremeci. Olhei ao redor e tomei uma decisão.

- Vamos esperar você dar o fora daqui. E então...

Uma garota estava nos espiando sem pudor. Ou talvez entrando na conversa sem pedir permissão (o que parecia mais lógico). Tinha os olhos em mim. Ariana seguiu meu olhar e abriu um sorriso enorme.

- Pansy! O grupo ainda não começou?

Antes que eu pudesse perguntar o que era “o grupo”, Pansy sentou-se ao meu lado. Estava preso entre duas garotas. Virei-me para Pansy, aguardando resposta.

- Preciso sair daqui antes que percebam que não estou. – ela disse.

Ariana ficou pensativa por um instante.

- Arrumei cigarros. Vamos para o pátio...?

- Não! Vão olhar o pátio.

- Escute... – tentei interromper.

- O banheiro de visitantes. – concluiu Pansy. Ambas levantaram como uma só e me restou ir com elas.

- Vá à frente. – resmungou Pansy, me empurrando. – Não podemos usar estes.

E antes que eu percebesse, estava em um banheiro feminino com iluminação fraca. As duas fecharam a porta com um clique e risadinhas abafadas.

Pansy sentou-se no vaso sanitário e acendeu um cigarro. Cruzou as pernas. Ficou esperando que continuássemos a conversa como se fizesse parte dela. Uma voz lá fora gritou:

- Terapia de grupo feminina! Vocês sabem onde é a sala ... aonde está a garota do vinte e três que estava com visita?

Ariana abriu um sorriso ainda maior para Pansy. Era como se eu estivesse invisível.

- Então, você quer ... tinta? – perguntou Pansy sem um pingo de vontade de me explicar o que estava acontecendo.

- Sirius gosta de vermelho. – Ariana se apressou a explicar.

- Tem uma garota riquinha que consegue qualquer coisa por mais laxante. Ela tem bulimia. Você recebe desses?

- Não. – respondeu Ariana.

- Você pode de repente ter dificuldade de cagar. – explicou Pansy.

- Ah! Sim. Quantos por uma tinta?

- Pergunto hoje à noite.

- Obrigada.

- E vou querer dois dos seus de dormir. Pela ajuda.

- Certo. – fez Ariana decepcionada.

Não fazia a menor ideia do que estava acontecendo, mas pude jurar que era uma ação comercial (e ilegal) de trocar os remédios recebidos por mercadorias.

A fumaça tomou conta de todo o cubículo de quatro paredes. O cigarro de Pansy zanzava entre seus dedos. Ariana decidiu acender um também.

- Podemos sair? – perguntei desconfortável.

- Não. Não podem me achar antes do grupo acabar. – respondeu Pansy como se a questão se encerasse nela. - É seu namorado? – perguntou Pansy para Ariana como se eu não estivesse ali.

- É.

- Ele é O.K. – disse dando seu aval.

E minha cabeça girou. Por que de repente Ariana precisava da aprovação dessa garota? E o que eu estava fazendo no banheiro feminino com as duas?

Antes que eu desistisse da visita e abrisse a porta, dando um adeus precoce, o cigarro de Pansy acabou. Ela se levantou. Pareciam ter combinado. Ou simplesmente se sincronizavam muito bem. Começaram uma dança impregnada de loucura.

Ariana se sentou, ainda fumando. Pansy me prendeu na porta com o corpo e lançou sua boca contra a minha. Não ouvi nada de Ariana. A fumaça tapava meus olhos lacrimejantes. Fechei os olhos e a seguir só posso constatar que eu estava maluco.

A garota Pansy (que até agora eu não tinha observado bem), travou minha saída com as duas mãos na porta. Ainda me beijava. De repente ela ergueu os braços para cima – Ariana estava tirando sua camiseta enquanto Pansy me beijava.

E ela estava sem sutiã. Quando me prensou com o corpo contra a porta, suas aureolas se grudaram ao meu corpo. Minha respiração se tornou mais rápida. Ela era bem mais alta que Ariana. Simplesmente afastou as pernas e o caminho do meu membro ficou aberto para minha namorada.

Ariana se ajoelhou e abriu meu zíper enquanto Pansy me beijava com as pernas separadas para que a cabeça de Ariana me encontrasse.

Ariana desceu a vestimenta jeans. Mais uma vez colocou a boca em mim. Dilatava. Eu mesmo tremia alucinadamente. Ariana de joelhos sugando e girando a língua em rodopios. Pansy colada em mim enquanto as mãos me arranhavam nas costas e na barriga.

E quando eu simplesmente ia explodir, Ariana sentiu. A cabeça dela se afastou. Pansy percebeu o movimento e também parou de me arranhar. Tinha um riso de deboche no canto da boca.

Pansy me tirou da porta e girou meu corpo até Ariana. Em algum momento Ariana tirou sua peça íntima. Estava só com o vestido que nada tinha a ver com ela. Por intuição sentei-me no vaso sanitário vazio. E ela se jogou contra mim, virada de frente. Meu membro encontrou sua parte imaculada – eu faria com cuidado. Ariana não. Ela simplesmente precipitou o oco de seu corpo contra meu membro. Com um “ahh” de dor e surpresa, eu estava dentro dela. Sentindo as paredes fazerem um frenesi de aceitação e prazer.

Pansy estava rindo. Ariana colocou as duas mãos nas paredes dos lados. E com a ajuda do apoio ela, começou a subir e descer em mim. Pansy encontrou um espaço para me beijar. E ficamos nessa espécie de ritual. Ariana de olhos fechados e mordendo o lábio inferior cada vez que era outra vez invadida, cada vez que lançava seu corpo inteiro para baixo e em direção ao meu membro. Pansy atrás de nós, sua boca beijando meus lábios ou mordendo a nuca de Ariana.

O mundo podia parar naquele momento.

Explodi dentro da minha menina de cabelos rosa. Ela sentiu, e abriu os olhos. Ariana ia sair de cima precocemente, mas Pansy disse que não com a cabeça. Ela ficou comigo até eu murchar totalmente Depois se levantou. Os olhos tinham um brilho estranho e extasiado. Pansy puxou sua nuca e elas começaram a se beijar. Percebi que Ariana recebia tudo que Pansy oferecia como uma criança necessita do amor dos pais.

Elas giravam no banheiro, aos beijos.

Recompus-me.

As duas também recolocaram as roupas.

- Ele é O.K. – repetiu Pansy, quebrando o silencio. – A merda do grupo já acabou. Traga-me cigarros, também, garoto. – Pansy riu. Não sei se estava brincando.

Ela abriu a porta e nos deixou sozinhos. A porta rangeu. Ariana pareceu surpresa.

Nenhum de nós dois soube o que dizer a seguir. Quem conduzia era Pansy.

- Obrigada pelos cigarros. – sussurrou Ariana. – Vou pintar os cabelos de vermelho e ficar bonita novamente.

Eu a beijei enlouquecidamente.

- Você é a namorada mais linda.

Debbie
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