Cair Paravel

O país de Nárnia, localizado ao norte do Reino de Arquelândia e banhado pelo Grande Oceano Ocidental, é um local de paz onde reina um grande poder. É um reino possuidor de grande magia, e palco de fantasiosas aventuras.
Quem quer que almeje chegar a esse país terá de ser muito puro para passar pelas fronteiras guardadas pelos corajosos minotauros. Ou muito corajoso para tentar passar ileso pelas mesmas. Mas é claro que se você, em seu grande mundinho cheio de problemas, encontrasse uma das poucas passagens para Nárnia, não iria precisar enfrentar os Guardiões das Fronteiras.
Existem poucas passagens dessas, e são raras as que são encontradas. A última de que se tem notícia é um grande guarda-roupa, que ficava em uma grande mansão campesina, mas quatro crianças foram dadas como desaparecidas depois de visitarem essa casa, e, logo que o dono da mansão, um inteligentíssimo professor, faleceu, toda a sua mobília foi para leilão. Ninguém faz ideia de onde o guarda-roupa foi parar.
Um grande pesquisador das histórias de Nárnia, há muito tempo, encontrou os últimos pedaços da árvore vinda de Nárnia, a mesma que deu origem ao guarda-roupa. As más línguas, invejosas, dizem que ele usou a madeira em sua lareira. Mentira. Outro pesquisador, descendente do primeiro, descobriu o local onde seu ancestral escondeu as lascas da madeira mágica.
Foi dado como louco muitas vezes, mas depois de sua descoberta, Xenófilio Lovegood nunca deixou de acreditar em coisas impossíveis, inclusive em Nárnia.

Xenófilio enxugou o suor que lhe escorria pela testa e encaixou o ultimo pedaço do assoalho no primeiro andar de sua casa. Sua mulher estava na cozinha amamentando a pequena Luna e ele estava terminando de arrumar o quarto da garotinha, que, por enquanto, ainda dormia em um berço no quarto dos pais. E Xeno ainda não conseguia acreditar que era pai! Levantou-se e olhou o trabalho que tinha feito. Aquilo ali daria um belo quarto para quando sua filha estivesse crescida.
Olhou para a peça que acabara de colocar no piso e sua cabeça foi invadida por memórias. Com toda a sua imaginação, anos atrás, um assoalho parecido com aquele o levou para outro mundo.
Xenófilio encontrara, quando era pequeno, o diário de seu bisavô escondido no meio das vestes de sua avó (e não me pergunte o que pequeno Lovegood estava fazendo com as roupas intimas da senhora!) e desde que terminara a escola buscava o local onde o homem havia escondido os pedaços da árvore.
Depois que sua avó, que morava na casa que era habitada por Lovegoods há tempos, faleceu, foi que veio luz à cabeça do jovem Xenófilio Lovegood. O seu bisavô morara naquela casa, pois, e em seu diário ele escrevera que chegara à Nárnia depois de mergulhar embaixo de sua cama.
A partir daí, Xeno enlouqueceu. Não descansou até que encontrasse o portal para Nárnia. E olhe que ele nem ficou muito cansado. A madeira mágica fora colocada, e ainda estava, no antigo quarto de seu bisavô, porém não mais debaixo da cama, pois os moveis foram trocados de lugar várias vezes.
O jovem de cabelos longos e vestes coloridas que era Xenófilio teve de mover o guarda-roupa para encontrar o que procurara havia meia década. Lá estava! Os últimos pedaços da árvore vinda de Nárnia estavam bem ali, à sua frente. Mas ele hesitou na hora descer pelo piso da antiga casa. O que aconteceria a partir dali?

Xeno então deu de ombros. Não tinha nada que o prendesse àquele mundo, pois não possuía irmãos, e seus pais, ele tinha certeza (mas todo pai que é pai diria que estava errado) que não sentiriam sua falta.
Levantou a madeira que estava solta e desceu por uma total escuridão, mas logo percebeu que fizera o certo. Já sentia um vento a balançar-lhe os cabelos e, tinha mente fértil e não idiota, soube que seria impossível de isto acontecer estando embaixo da casa. Abriu os olhos, que ele não tinha consciência de ter fechado, e viu um grande castelo à sua frente.
Olhou para cima, mas não havia sinal da casa de sua avó, apenas um céu azul ausente de nuvens. Atrás de si havia apenas árvores, e uma em especial, bem às suas costas, sorriu-lhe gentil e disse:
- Viva o rei Pedro! Viva a rainha Susana! Viva o rei Edmundo! Viva a rainha Lúcia! – A árvore, que ele percebeu ser uma macieira, sobrou-lhe um doce aroma no rosto e continuou – Corra, filho de Adão, e ainda chegarás a tempo de ver a coroação!
E Xenófilio correu, sem saber exatamente para onde ia, mas, sendo guiado ora por dríades inteligentes, ora por belas naiades, logo chegou ao grande castelo, e deduziu que ali estava ocorrendo a tal coroação, pois ele podia ouvir conversas e musicas vindo de lá.
Sentindo-se deslocado, Xeno logo se viu dentro da festa no grande castelo. Ali haviam centauros, faunos e animais de tamanhos exorbitantes. Xenófilio aproximou-se de um grupo de castores e percebeu que eles falavam! E ele conseguia entender! O assunto eram diques...
- Tenho certeza que terminaremos aquele dique assim que a primavera de Aslam, grande leão, terminar – dizia o primeiro, mais gorducho e baixinho
- Mas a primavera de Aslam, grande leão, termina em duas semanas, castor! – disse outro, este alto e esguio
- Creio que iremos terminá-lo ao fim do próximo verão! – falou o terceiro castor, que parecia ter mais autoridade naquele grupo e que também tinha os maiores dentes entre os três
- Com licença, mas quem é Aslam, o grande leão? – Xenófilio perguntou, já esperando receber uma resposta malcriada
- É o nosso grande Rei! Filho do Imperador de Além-Mar. O Grande Leão e guardião de Nárnia! – disse o castor mais gorducho, surpreendendo o homem com sua educação
- Então eu estou em Nárnia?! – exclamou Xeno, mais pra si do que para os castores
- É claro que estás em Nárnia, homem, onde mais estaria? – perguntou o castor de dentes enormes

Xenófilio ficou extasiado. Então Nárnia existia! Um mundo fantasioso existia de verdade, e não apenas em sua cabeça (mas se pararmos pra pensar, podia sim estar acontecendo apenas em sua cabeça!). Xeno sentiu-se o homem mais feliz do mundo, e decidiu que, quando voltasse para o seu mundo, faria milhares de descobertas, afinal, ele conseguira descobrir outro mundo (mesmo que não fosse o primeiro a fazer tal proeza, era um dos poucos)!
Seus pensamentos para o futuro foram interrompidos por um estrondoso rugido e Xenófilio soube que quem o fizera fora Aslam, o grande leão!
Xeno pôs-se a procurar de onde vinha o poderoso rugido, e, enquanto o fazia, começou também a reparar no lugar em que estava. De certo aquele era um castelo antigo, cheio de riqueza e brilho. As paredes de tapeçaria faziam daquele local aconchegante, e Xeno não acharia nada ruim viver ali, num imponente castelo em cima de rochas. E estando ali dentro, vendo todos os bosques, rios, campos e moradas de Nárnia, Xenófilio sentiu o poder que emanava daquela construção, e, pois humano ele era, sentiu inveja daquele que eram coroados e iriam governar aquelas terras e morariam naquele castelo! Merlin (ou “Aslam!” Como preferir)! Ele queria um castelo daqueles.
Depois de muito procurar, Xeno finalmente encontrou o filho do Imperador de Além-Mar, o Grande Leão de Nárnia, e o fez a tempo, pois o tal estava quase a partir.
- Aslam! – e Xenófilio ajoelhou-se aos pés do leão, curvando-se para tamanho poder, superioridade e magia que aquela criatura emanava
- Levanta-te, homem! – falou o leão – Diga-me quem és tu e como conseguistes entrar em Cair Paravel e no país de Nárnia! – era uma ordem, e Xenófilio não ousaria desobedecer

Olhou para as quatro crianças que estavam ali com o leão, notou suas coroas e percebeu que Nárnia era uma terra de sonhos! Ali havia árvores que sopravam sem a ajuda do vento, faunos que tocavam musicas (pois eram eles que faziam a barulheira que se fazia ouvir desde que Xenófilio chegara à Nárnia), espíritos da natureza que o guiavam pela floresta, animais falantes (Merlin!/Aslam! Animais falantes!), um imponente castelo, crianças que realizavam o sonho de tornarem-se Reis e Rainhas e um leão que conversava com elas sem comê-las! Teria muito que contar quando voltasse ao seu mundo, mas, naquele momento, teria que contar como chegara aquele mundo.
- Grande Leão Aslam! – começou Xeno sem levantar-se da reverencia – Chamo-me Xenófilio Lovegood, sou um bruxo (veja a minha varinha, oliveira e núcleo de unicórnio). Cheguei aqui por meio de uma passagem embaixo do guarda-roupa de meu bisavô. Vim à Cair Paravel guiado por espíritos da natureza. Encontrei-o depois de conversar com um trio de castores – ele respirou fundo – Peço desculpas pela minha interrupção.
- Ora, vejo que tu és um homem de Adão, mas o sangue que corre em teu corpo é de narnianos – falou Aslam – És tu um poderoso!
- Grande leão, agradeço pelo elogio – Xenófilio sentiu-se corar
- Ele poderia ser um de nossos conselheiros, Aslam – falou a menor de todas as crianças, uma garota de cabelos dourados – Nós vemos que ele tem uma alma pura, é bom e faria o que fosse por quem ama – continuou
- Aprecio seu desejo, Rainha – disse Xeno, sentindo-se estranho ao falar com a pequena garota – Mas o que eu mais gostaria era de voltar ao meu mundo – pediu – Nárnia é bela, mas não sei a pertenço.
Xeno sabia que não devia continuar ali. Por mais que ficasse encantado com aquele mundo, um de seus grandes desejos, assim como fazer grandes descobertas, era casar-se e construir uma família. Não tinha certeza se poderia fazê-lo em Nárnia.
O leão olhou-o com curiosidade e falou:
- És tu um homem leal, Lovegood, poderoso filho de Adão. Que sejas abençoado por mim, e que viva bem em sua terra – Aslam soprou-lhe o rosto, um sopro quente, diferente daquele que a árvore lhe lançou, e Xeno logo se viu em pé diante da entrada para Nárnia, no antigo quarto de seu bisavô, com a tampa do assoalho ainda levantada.

E agora, Xenófilio, anos mais velho, se via diante de outro assoalho, parecidíssimo com o anterior, o qual ele arrancara as madeiras encantadas para construir este outro.
Olhou outra vez para a porta, de onde vinha o cantarolar de uma canção de ninar cantada por sua esposa. Abriu a tampa do assoalho.
Sentiu um sopro quente, inigualável, sobre sua face, e ouviu a voz do grande leão Aslam.
- Já conseguiste o que desejava, Lovegood – rugiu o leão – Não esqueça de fechar o assoalho, poderoso filho de Adão. – Então, Xeno fechou a tampa do assoalho, tendo certeza de que estava fazendo o certo quando desceu as escadas e viu a pequena garotinha de gigantes olhos azuis como o céu de Nárnia naquele dia incrível.
No futuro, enquanto via seu mundo em caos, Xenófilio nunca deixou de acreditar em Nárnia. E nunca deixou de pensar em Nárnia. E nunca deixou de viver em Nárnia, pois, como dissera Aslam, ele podia ser um filho de Adão, mas ainda tinha sangue de Nárnia.

Que coisa mais perfeita! Amei, amei, amei, amei, Ley!

Coisa mais linda! Leve, fofa, afs, nem sei mais o que falar IASUDHSAIUDHASIDHAIU